11/12/2024 | Notícia
A 17ª edição do Concurso de Arquitetura CBCA/Alacero e o 6º Concurso de Engenharia CBCA/ABECE revelaram o olhar emergente dos jovens estudantes brasileiros. E reafirmou o papel fundamental dessas disciplinas na resposta aos desafios globais do nosso tempo.
Sob o tema “Ação Contra a Mudança Global do Clima”, a importante competição de arquitetura premiou a equipe do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que apresentou soluções inovadoras e conscientes para os dilemas ambientais.
Já a disputa de engenharia, com foco em “Galpões Logísticos em Estruturas de Aço”, destacou a eficiência e precisão do projeto desenvolvido pelos estudantes da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Os concursos promovidos pelo CBCA evidenciam a capacidade das novas gerações em integrar conservação ambiental, funcionalidade e inovação, provando que o futuro das cidades e das construções começa no presente – com criatividade e responsabilidade como grandes alicerces.
Cultivo Modular: Arquitetura Flutuante e Visionária
No 17º Concurso CBCA/Alacero, o projeto “Cultivo Modular” brilhou ao propor uma arquitetura inovadora, enfrentando os desafios climáticos com engenhosidade. Desenvolvido por Aline Saemi Nakamura, Camila Miwa Arai e Livia Naomi Nishijima Yohei, sob orientação de Dani Hirano, o projeto une estrutura flutuante, produção de alimentos e espaços de convivência comunitária.
“Desde o início, a equipe trabalhou com a ideia de enfrentar o desafio da produção sustentável em plataformas flutuantes, adaptadas a regiões costeiras e urbanas”, explica Dani Hirano. A proposta para o bairro de Brasília Teimosa, em Recife, respondeu à necessidade de áreas de lazer e à carência de infraestrutura pública.
O uso do aço foi decisivo para garantir a flexibilidade e resistência da estrutura, além de viabilizar uma abordagem modular que permitiu grandes vãos com consumo reduzido de material. Sua leveza foi essencial para assegurar a flutuabilidade e a adaptação ao ambiente aquático, consolidando uma solução eficiente, como destaca o orientador da equipe.
A estudante Camila Miwa complementa, explicando que o sistema de tirantes foi escolhido para potencializar essa eficiência, sustentando a estrutura de forma leve e estável. “A redução de pilares e do peso total criou um espaço contínuo e aberto, conectando a cidade ao oceano e assegurando a adaptabilidade dos ambientes para diferentes usos ao longo do tempo”.
O conceito de modularidade foi fundamental para o time da Faculdade Belas Artes. A arquitetura foi pensada para se expandir e se replicar em áreas costeiras e ribeirinhas, transformando a água, antes vista como barreira, em oportunidade. Adaptável a rios, comunidades vulneráveis e cidades densas, o projeto oferece soluções rápidas e integradas, criando espaços públicos que promovem convivência e respeitam o entorno natural, sem deslocar seus habitantes.
A adaptabilidade permite que o projeto se transforme em resposta a catástrofes ambientais, servindo como abrigo temporário em casos de inundações ou tempestades. “A flexibilidade foi um conceito norteador; precisávamos de uma estrutura que se adaptasse às variações climáticas e sociais, promovendo ao mesmo tempo sustentabilidade e interação comunitária”, comenta Aline Nakamura.
O projeto integra aeroponia e maricultura regenerativa, aproximando a produção de alimentos do ambiente urbano e propondo uma nova perspectiva para a agricultura nas cidades. Essa combinação reduz a pegada de carbono ao minimizar o transporte e promove a sustentabilidade através de técnicas que consomem menos energia e recursos naturais.
A inclusão de espaços públicos com polos de produção agrícola é um dos pilares centrais da proposta. A equipe conseguiu harmonizar a oferta de lazer e serviços essenciais para a comunidade com um cultivo responsável de alimentos, cuidadosamente conectada ao ambiente natural.
Essa abordagem permitiu que a arquitetura respondesse às demandas sociais locais e também promovesse uma relação orgânica entre os habitantes e os processos produtivos, criando um ciclo de convivência e sustentabilidade. O projeto demonstra que é possível transformar a produção agrícola em uma experiência comunitária e educativa, onde cultivo, lazer e bem-estar coexistem em perfeita sintonia.
É importante ressaltar ainda que a estrutura em metal exposto também exerce uma função educativa, promovendo a interação da população com o espaço e incentivando a conscientização sobre o meio ambiente.
O projeto Cultivo Modular é uma visão de futuro, onde arquitetura, natureza e comunidade se fundem em um sistema resiliente e replicável. E mais: ele age como uma força transformadora, promovendo convivência sustentável e educando para um mundo mais consciente.
É importante destacar que a equipe brasileira do Centro Universitário Belas Artes conquistou também o segundo lugar na 17ª edição do Desafio Alacero, após o 1º lugar no Concurso do CBCA. A premiação ocorreu durante o Alacero Summit 2024, em Buenos Aires, na Argentina, celebrando a excelência do trabalho brasileiro ao lado de propostas de outros países da América Latina.
Galpão Logístico: Eficiência Estrutural e Responsabilidade Ambiental
A iniciativa vencedora do 6º Concurso de Engenharia CBCA/ABECE é uma síntese primorosa de engenharia aplicada, combinando inovação, eficiência e responsabilidade ambiental.
A equipe da Universidade Federal de Lavras (UFLA), formada por Agnes Pereira Asloquer, Daniel Henrique da Silva, Filipe Avelino Maciel, João Inácio de Jesus Lima, Marcos Túlio Moreira e Ruan Ângelo Ferreira Resende, sob orientação de Maykmiller Carvalho Rodrigues e co-orientação de Wisner Coimbra de Paula, projetou um galpão metálico com sistemas treliçados para vencer grandes vãos com precisão e economia.
“O dimensionamento do galpão foi realizado por software, com verificação manual para assegurar precisão e confiabilidade”, explica o orientador Maykmiller Carvalho Rodrigues. Além dos cálculos rigorosos, o projeto passou por simulações em túnel de vento, garantindo que a estrutura suporte os ventos fortes da região de Guarulhos, em São Paulo, e também atenda aos critérios de segurança com alto desempenho.
Essa abordagem integrada revela a maturidade desses jovens engenheiros da UFLA, que compreendem a necessidade de unir tecnologia e práticas sustentáveis desde a fase de concepção. A engenharia não pode mais se dar ao luxo de ser apenas funcional – os jovens estão pensando à frente, integrando inovação e responsabilidade.
O co-orientador e professor Wisner Coimbra de Paula ressalta a importância da análise de montagem: “Simular o comportamento da estrutura antes da execução é fundamental para prever problemas e garantir eficiência”. Essa visão mostra a competência técnica da equipe da UFLA e destaca uma geração de engenheiros que aprende a enxergar na antecipação de cenários um diferencial competitivo.
A escolha pelo sistema treliçado foi precisa, fruto de uma análise comparativa meticulosa com vigas de alma cheia. “Embora mais complexo na fabricação, o sistema treliçado ajuda a economizar material, além de garantir leveza e elegância à estrutura”, comenta o estudante Ruan Ângelo Ferreira Resende.
Para essa nova geração e engenheiros, o uso do aço é mais do que uma questão técnica, mas um posicionamento ético. “Por ser reciclável e leve, o aço reduz o impacto ambiental e facilita a montagem”, destaca João Inácio de Jesus Lima. A escolha por uma obra industrializada reforça essa visão pragmática e sustentável. “Nossa preocupação não é apenas entregar uma estrutura eficiente, mas minimizar resíduos e maximizar o impacto positivo”, comenta Lima, reforçando uma mentalidade voltada para a inovação responsável.
Rapidez e precisão também foram prioridades. Daniel Henrique da Silva ressalta o uso de ligações aparafusadas e da modularidade: “A estrutura chegou pronta de fábrica, o que garantiu uma montagem ágil e sem erros. Perfis com encaixes planejados e soldas laterais otimizadas asseguraram eficiência em todas as etapas”. Esse pragmatismo é um traço marcante dos novos engenheiros: aliar processos industriais inteligentes com qualidade técnica irretocável.
A equipe da UFLA também demonstrou visão prática ao priorizar eficiência logística. “Distanciar estrategicamente os pilares ampliou a capacidade de armazenamento e facilitou o trânsito de cargas”, explica Filipe Avelino Maciel. Outro ponto: a marquise foi projetada com altura adequada para permitir a circulação fluida de veículos, assegurando um fluxo operacional contínuo e eficaz.
A atenção ao conforto térmico e acústico refletiu a preocupação com a experiência dos usuários. O dimensionamento das telhas sanduíche exigiu equilibrar desempenho térmico e acústico com a necessidade de vencer grandes vãos sem comprometer a estrutura. “A equipe analisou diferentes opções, garantindo telhas que atendessem às exigências físicas e proporcionassem conforto ambiental adequado no interior do galpão”, conta Agnes Pereira Asloquer.
O galpão logístico proposto pelo time da UFLA é mais do que um projeto eficiente, tornando-se um verdadeiro manifesto da nova geração de engenheiros, que une técnica, inovação e consciência ambiental. Mostra que a engenharia é uma disciplina em constante diálogo com o futuro, pronta para enfrentar desafios complexos com soluções práticas e responsáveis.
A resistência do Aço e a Leveza da Imaginação
Por fim, os concursos do CBCA revelam que a construção civil pode ser poética sem deixar de ser eficiente, e que a arquitetura e a engenharia devem dialogar com a estética sem perder a precisão. Cada projeto inscrito é uma declaração de inovação. O futuro já começou nos traços e nas ideias dos estudantes e nas soluções criadas com paixão e dedicação. Agora, as responsabilidades social e ambiental deixaram de ser conceitos abstratos e passaram a ser posições de trabalho.
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