03/09/2021 | Notícia | Revista Arquitetura & Aço - Edição 59
A equipe da revista Arquitetura & Aço entrevistou o arquiteto Jayme Lago Mestieri, fundador do escritório JLM, que atua há mais de 15 anos no mercado. Acostumado a usar o sistema construtivo em aço, ele conta com grandes projetos no portfólio, como residências, incorporações, shoppings, hotéis e metrôs. Nas próximas páginas, Jayme fala sobre criatividade, vantagens da utilização do aço, futuro da arquitetura e enaltece o trabalho do CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço). O conteúdo é imperdível!
REVISTA A&A - O que o sistema construtivo em aço representa para a arquitetura brasileira?
JAYME MESTIERI: Ainda que a arquitetura brasileira tenha uma grande história com o concreto, nós não podemos deixar de observar a contribuição do aço. Temos grandes reservas e grandes empresas no setor, com representação mundial. Além disso, a construção em aço é largamente empregada - sobretudo - em obras de infraestrutura urbana e institucionais, como terminais e aeroportos.
A evolução da economia e a necessidade na otimização dos prazos e montagens em canteiros de obras cada vez mais adensados expõem a necessidade de um sistema rápido, que traga a precisão industrial e mantenha o desenho arquitetônico. Se formos olhar o cenário recente da arquitetura, praticamente grande parte das concessões de obras públicas tem a contribuição da estrutura metálica, principalmente pelos fatores que acabei de expor. O espaço da participação do aço na arquitetura brasileira traz todos esses benefícios e está sendo nitidamente ampliado.
O seu portfólio conta com grandes obras, como residências, shoppings, hotéis e metrôs. Como tem sido a participação dos projetos em aço frente aos outros sistemas construtivos?
O nosso escritório atua em construções grandes e complexas. O nosso universo está mais habituado com o sistema construtivo pré-fabricado em usinas, que produzem peças com o comportamento já previsto. Para nós também é importante a constância do comportamento da peça. Quero dizer que nós já sabemos, ao distribuirmos uma malha estrutural dentro de um projeto que estamos iniciando, que o pré-dimensionamento das vigas pilares e travamentos deverão ser muito aproximados ao de outros projetos similares nossos. Isto gera uma agilidade muito grande no trabalho.
Quando levamos o projeto também para levantamento de custos no mercado nós conseguimos ter a contribuição não somente do engenheiro calculista, mas também da indústria que fabrica a peça, que pode propor uma reengenharia de custos, montagens e prazos mais interessantes. Esta constância no comportamento das peças e também a participação mais efetiva da indústria no desenvolvimento do projeto nos dão muita agilidade e fluidez nos trabalhos.
Grandes projetos possuem um rígido controle no plano de negócios, no desempenho financeiro e também nos prazos para evitar lucros cessantes devido a atrasos de obra. Também dentro do universo das concessões públicas, existe uma grande responsabilidade e permissão de concluirmos a obra dentro de um prazo proposto. Tudo que puder ser controlado fora do canteiro de obras terá mais precisão e certamente contará com equipes mais bem estruturadas.
Podemos dizer que a construção em aço é a criatividade aplicada?
Nós recentemente entregamos uma grande escola internacional, instalada no centro de São Paulo, voltada para moda. Com uma grande estrutura em pórtico metálico, nós penduramos todas as salas. Cada uma delas se tornou basicamente uma gaiola de vidro, com estrutura metálica aparente, flutuando no espaço sem pilares. Um resultado incrível com um exercício bem criativo do que o aço nos permite.
Conte alguma ideia criativa que você teve, com o uso do sistema estrutural em aço, que resultou em um grande projeto.
Em plena Avenida Faria Lima, em São Paulo, nós desenvolvemos um projeto para uma grande rede de homewear: a Suxxar. Para darmos mais leveza à obra, resolvemos fazer toda a loja elevada sobre pilares centrais, com balanço em ambos os lados. Dessa forma, a loja foi praticamente erguida sobre três pilares no formato X, situados no centro da laje, deixando-a toda solta, muito leve, e abrindo um espaço para o estacionamento no pilotis. Esses pilares montados em X acabaram se tornando o símbolo da marca e deu muita identidade ao projeto.
Entre todas as vantagens que o sistema construtivo em aço oferece, quais são as principais para o seu trabalho?
É uma estrutura que não precisa ser encapada, podemos trabalhar a arquitetura final com ela aparente. Também existem painéis de fechamento, que podemos trabalhar juntamente com a estrutura metálica, cujos encaixes são muito mais adaptados à estrutura, como vidro, fachada ventilada, fórmica para uso externo e painéis isotérmicos.
Nós também gostamos muito de usar brises formados por chapas metálicas ou chapas perfuradas, que também se comportam muito melhor com a estrutura em aço.
As pessoas não compram “coisas”. Elas compram benefícios. Neste contexto, o que podemos pensar sobre a arquitetura e o sistema construtivo em aço?
Nós compramos a previsibilidade de um comportamento estrutural, que conseguimos aferir pelos outros trabalhos realizados. Nós compramos também o visual estético e a limpeza do canteiro de obra.
Como a construção em aço pode colaborar na criação de espaços inovadores no pós-pandemia?
Muito dos grandes trabalhos que fazemos, como - por exemplo – shopping centers, agora, podem ser previstos com sistemas de aberturas em toda sua fachada. As esquadrias, caixilhos e painéis perfurados, que permitem essas aberturas, são metálicas. O mesmo vale para a cobertura: grandes pérgolas em pátios centrais abertos, que também são destaque, integram os ambientes cobertos, garantem a ventilação e agregam muito ao desenho arquitetônico.
A construção em aço pode ser considerada o futuro da arquitetura brasileira?
O futuro da arquitetura brasileira pertence ao campo criativo. O arquiteto brasileiro consegue gerar uma personalidade com os poucos elementos que nós temos por aqui, se comparados ao contexto internacional, onde a gama de soluções e ofertas é muito maior. A criatividade é a marca, mas um sistema modular que possa assumir diferentes formatos dentro da lógica de montagem contribui muito com o exercício da criatividade.
O que o arquiteto deve priorizar na hora de projetar utilizando o sistema estrutural em aço?
Na minha opinião, em meu exercício profissional, ele deve priorizar o sistema estrutural aparente. É muito bonito, didático e interessante vermos a lógica da estrutura toda aparente, como aquela peça foi construída. Até para o leigo é um exercício encantador. A estrutura faz parte das grandes obras. E, sobretudo, no Brasil, deixá-la aparente é sempre uma vantagem.
Na sua opinião, qual é a importância do CBCA na formação de novos arquitetos e na promoção do uso do aço na construção civil?
As vantagens do aço vêm crescendo e este sistema estrutural vem conseguindo se democratizar. Importante tirarmos o estigma de valor e também é muito importante mostrar os avanços que a sua estrutura teve com relação a balanços, vãos livres e travamentos. O CBCA, certamente, tem este papel relevante de aproximar o novo profissional do que a estrutura realmente é.
Ficha Técnica:
Fabricante da Estrutura Metálica: Cober Aço
Projeto Estrutura de Aço: RGK Engenharia
Projeto Arquitetônico / Arquiteto Responsável: Jayme Lago Mestieri Arquitetura
Execução da Obra: One Engenharia
Área Construída: 4.800 m²
Volume de Aço Empregado: 300 toneladas
Conclusão da Obra: 2020
Local: São Paulo, SP
Confira na íntegra.
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