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Imagine um bairro esquecido pelo tempo, onde a arquitetura guarda as marcas de um passado vibrante. Agora, visualize esse cenário sendo transformado por um projeto que se torna um catalisador de mudança social e urbana. A nova sede administrativa do Governo do Estado de São Paulo, que será construída nos Campos Elíseos, é uma proposta que reconstrói a relação entre o espaço público, a sustentabilidade e o futuro da capital paulista.

O projeto vencedor do concurso público, criado pelo escritório Ópera Quatro Arquitetura, combina de forma precisa uma estrutura mista de aço e concreto, aproveitando as melhores qualidades de ambos os materiais. O concreto, utilizado nos pavimentos inferiores, proporciona solidez e resistência, enquanto o aço, aplicado nos andares corporativos, garante uma construção rápida, limpa e sustentável.

“O sistema metálico utilizado nos pavimentos superiores, com grandes vãos, proporciona flexibilidade na ocupação dos espaços, permitindo layouts diversos que se adaptam às diferentes necessidades dos usuários”, destaca o arquiteto Pablo Chakur. “Essa solução foi pensada para garantir a eficiência do edifício ao mesmo tempo em que oferece liberdade no design dos interiores, criando ambientes dinâmicos e versáteis”.

O uso da estrutura mista impacta diretamente a funcionalidade do edifício, permitindo que secretarias e autarquias de diferentes tamanhos compartilhem os espaços de forma integrada ou independente. O projeto prevê um edifício em cada uma das principais quadras, com andares corporativos em dois blocos de alturas e lajes distintas, conectados por passarelas. 

“Essa composição possibilita ocupações horizontais ou verticais, atendendo às diversas demandas dos órgãos governamentais”, ressalta o arquiteto. “Além disso, uma das condições impostas pelo concurso foi que os ambientes fossem projetados com o conceito de open space, garantindo ainda mais versatilidade no uso dos espaços internos”.

Nos níveis inferiores, como subsolo, térreo e embasamento, a  estrutura de concreto moldado in loco sustenta a base da construção. À medida que o edifício se eleva, o aço assume o protagonismo, proporcionando flexibilidade estrutural. O núcleo em concreto armado contribui para o travamento da estrutura em aço Essa combinação de materiais e a aplicação precisa de cada um deles tornam o edifício adaptável de forma quase orgânica.

“A escolha pela estrutura metálica foi decisiva para acelerar o tempo de construção, mantendo o processo limpo e sustentável”, destaca o arquiteto Pablo Chakur, da Ópera Quatro Arquitetura. “A leveza do sistema em aço reduziu as cargas de fundação, um fator essencial em um terreno com lençol freático elevado, como o dos Campos Elíseos.
Além disso, o metal proporciona uma solução estrutural eficiente, garantindo a integridade do edifício com menor impacto ambiental e maior facilidade de adaptação a futuras mudanças”.

Neste projeto, a arquitetura responde de maneira prática às necessidades dinâmicas do governo, oferecendo uma plataforma capaz de se adaptar às mudanças contínuas nas demandas e nos fluxos de trabalho. O aço, com sua rapidez na execução e precisão, se torna um aliado essencial para a sustentabilidade, minimizando resíduos e acelerando o cronograma de entrega de um projeto dessa magnitude.

No entanto, este projeto não é apenas uma expressão de eficiência construtiva. Ele é também um diálogo com o entorno urbano.
A localização nos Campos Elíseos traz um contexto muito mais desafiador do que um bairro central comum. Esta é uma área marcada por uma história de degradação, isolamento social e abandono.

O novo Centro Administrativo é uma resposta arquitetônica direta a essa situação. A forma como o projeto integra a Praça Princesa Isabel e reabre as quadras para os pedestres, com suas fachadas ativas e calçadas amplas, é uma tentativa clara de reconectar o edifício com a vida urbana ao seu redor.

As soluções de sustentabilidade, como o uso de fachadas duplas de vidro laminado serigrafado e a ventilação natural entre as camadas, são mais do que escolhas técnicas. Elas refletem um compromisso com o futuro de São Paulo. As questões de proteção solar e eficiência energética são abordadas com rigor, sem sacrificar a transparência ou a relação visual com o exterior. 

O edifício não se fecha em si mesmo; ele se abre para a cidade, permitindo que a luz natural invada os espaços, ao mesmo tempo que controla a radiação e o calor de maneira sofisticada.

A incorporação de áreas verdes, espelhos d’água e espaços públicos ao redor do edifício não só embeleza, mas também ressignifica a relação entre a arquitetura e a sustentabilidade. 
 

Segundo Pablo Chakur, a ideia de que uma sede administrativa não precisa ser um monumento isolado, mas pode ser um catalisador para a regeneração urbana, é um dos aspectos mais notáveis. “A estratégia vai além do simples plantio de árvores; é um esforço coordenado para integrar as pessoas ao espaço, trazendo vida de volta ao bairro”, afirma o arquiteto do Ópera Quatro Arquitetura.

Na visão de Pablo Chakur, três estratégias principais foram fundamentais para que o projeto da nova sede administrativa do Governo de São Paulo vencesse a concorrência. “A primeira foi a máxima flexibilização dos espaços e a segunda foi a diversidade tipológica e morfológica, que contribuiu para o fomento da urbanidade, criando uma conexão dinâmica entre o edifício e o entorno”, avalia.

O arquiteto complementa: “Por fim, a proposta foi cuidadosamente planejada para ter um impacto controlado na paisagem, respeitando o contexto urbano existente e integrando-se de forma harmoniosa ao bairro dos Campos Elíseos”. Essas características diferenciadas tornaram o programa uma escolha natural para atender às necessidades funcionais e estéticas de uma área tão relevante.

O projeto da nova sede administrativa de São Paulo resgata a função original da arquitetura: criar espaços que não apenas servem, mas que inspiram e conectam. A combinação de aço e concreto, unindo técnica e estética, resulta em um edifício ao mesmo tempo robusto e leve, firme e aberto — um reflexo da cidade que ele busca rejuvenescer.

Leia na íntegra - Revista Arquitetura & Aço ed. 69