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Alguns projetos impressionam pelo tamanho. Outros, pela técnica. Poucos conseguem unir tudo em uma só solução - estrutura e linguagem, leveza e precisão, forma e lugar. A nova sede da Brazilglass, assinada pelo escritório Sidonio Porto Arquitetos Associados, é um desses casos raros. Um edifício cuja estrutura expressa, além de sustentar. E cuja forma, contemporânea e clara, parece brotar do solo com exatidão e propósito.

“O processo criativo de concepção arquitetônica do nosso escritório é feito de forma que a engenharia já nasça integrada à arquitetura”, explica Marcio Porto, coordenador do projeto realizado em Guararema, São Paulo. Essa lógica, que articula todas as disciplinas desde os primeiros esboços, suporta uma concepção em que estrutura, materiais e propósito empresarial atuem em sincronia. O empreendimento cumpre sua função, além de traduzir, em cada detalhe, a identidade da Brazilglass - de modo claro, coerente e expressivo.

Quando questionado sobre o papel da treliça metálica na fachada do edifício, Marcio Porto é direto: “A estrutura do edifício é a própria arquitetura”. E basta observar para entender. O exoesqueleto metálico, além de cumprir uma função estrutural, revela conceitos. Ao se mostrar com clareza, simboliza fluidez, tecnologia e ousadia. A composição do edifício torna-se uma vitrine dos valores da empresa.

Ao idealizar um edifício que parece flutuar, Marcio transforma a sensação de suspensão em argumento arquitetônico. Essa impressão de autonomia estrutural - rara e tecnicamente exigente - ganha forma com o uso preciso do sistema construtivo em aço, apoiado por “engenharia de ponta e materiais sofisticados”, como destaca o arquiteto. Estrutura e percepção se fundem: o prédio desafia a gravidade com precisão e presença.

A composição em treliça, que vence vãos de 20 metros com apenas 50 centímetros de de altura de viga, é um feito de precisão e eficiência. Mais do que solução técnica, reafirma um princípio fundamental: a forma nasce da performance. E a superfície não é um adorno - é a própria essência construtiva, carregando função, identidade e engenharia em uma única linha de força.

A escolha pelo uso do sistema em aço no bloco administrativo e pelo concreto pré- moldado nas áreas industriais vai além da função. É uma decisão com força simbólica. O concreto, firme e econômico, abriga a produção. O aço, leve e expressivo, recebe as pessoas, as ideias e representa a marca Brazilglass. “A construção metálica foi utilizada no edifício de escritórios, que é o local com maior circulação e onde a linguagem corporativa da empresa é transmitida”, ressalta Márcio Porto.

Essa diferenciação tipológica é também um gesto de hierarquia e leitura espacial. O bloco de escritórios, elevado sobre o talude, assume o papel de liderança visual no conjunto da obra. Como uma acrópole industrial, nas palavras do arquiteto, ele emerge do terreno “com volumes equilibrados” que se harmonizam com a topografia - sem imposição.

Na cobertura do bloco de produção, o sistema em aço reaparece de forma estratégica. A estrutura metálica superior substitui o concreto para vencer vãos mais amplos com leveza, reforçando a racionalidade construtiva que orienta todo o partido arquitetônico.

As lajes do bloco administrativo, por sua vez, foram executadas em concreto pré-fabricado, montadas no local com a mesma grua utilizada para a estrutura metálica. Essa integração logística e técnica entre sistemas reforça a eficiência e o controle de execução, dois princípios centrais da proposta do escritório Sidonio Porto.

No desenho, vidro e aço deixam de ser coadjuvantes e assumem papel central. Cada elemento da sede traduz os princípios da Brazilglass, referência em soluções de alto desempenho. As grandes superfícies envidraçadas, alinhadas à estrutura com rigor milimétrico, refletem - no sentido literal e simbólico - a identidade da organização empresarial.
O empreendimento expressa precisão industrial e reforça a ideia de conjunto coeso e integrado.

“A melhor forma de uma empresa se colocar institucionalmente é através de uma obra de qualidade”, destaca Marcio Porto. Desde a chegada - marcada por uma portaria metálica em forma de asa, até os elevadores panorâmicos que revelam o átrio e a paisagem ao redor, cada espaço envolve o visitante em uma experiência sensorial e coerente, onde arquitetura e propósito caminham lado a lado.

O acesso ao edifício é plural: pode ser feito por rampas, escadas ou elevadores panorâmicos. Essa multiplicidade de caminhos amplia a experiência do usuário e reforça o princípio de liberdade espacial incorporado ao projeto.

Poucos sistemas construtivos traduzem tão bem a lógica contemporânea quanto o aço - especialmente por sua capacidade de desaparecer dos interiores. Em um ambiente corporativo marcado por mudanças constantes, o desenho adota uma abordagem limpa e adaptável, com estruturas recuadas, grandes vãos e pés-direitos amplos. Divisórias móveis completam a estratégia, reforçando uma arquitetura discreta, funcional e preparada para evoluir com o uso.

E mais: explorando a resistência do sistema metálico com uma geometria precisa e expressiva - como a estrutura em treliça -
o partido atinge um ponto em que engenharia e forma se tornam indissociáveis.

No projeto da Brazilglass, sustentabilidade e industrialização são cúmplices. A lógica foi de precisão cirúrgica: estrutura metálica montada como se fosse engenharia de fábrica, não trabalho brutal. “A obra aconteceu mais como um canteiro de montagem do que de construção”, define Marcio Porto.

Conexões parafusadas, soldas mínimas e interferência quase zero no terreno. As fixações foram projetadas com bolsos para embutir parafusos, deixando as peças metálicas lisas e compatíveis com os painéis de vidro e caixilhos. São detalhes técnicos que revelam o cuidado estético e a busca por continuidade entre estrutura e revestimento.

O edifício respeita a nascente, preserva a vegetação e se encaixa na topografia como quem entende o lugar. Eficiência, ética e impacto controlado - tudo na mesma linha. A implantação também foi pensada para minimizar movimentações de terra, equilibrando cortes e aterros, sem contrariar a morfologia natural do lote. A sede da Brazilglass se insere com inteligência, não com imposição.

Como integrar hospitalidade à lógica técnica e estética do edifício? A resposta está no último pavimento: um espaço de recepção corporativa envolto por jardins, com vista privilegiada e atmosfera de refúgio. “Há um agradável apartamento que oferece conforto ao visitante e valoriza a experiência com qualidade e beleza”, afirma o arquiteto Márcio Porto.

Mais do que um recurso funcional, a inclusão desse ambiente revela uma camada adicional de inteligência projetual: a sensibilidade. Trata-se de um gesto simbólico, que humaniza a arquitetura e reforça a cultura de acolhimento que a empresa deseja transmitir. O edifício não apenas representa - ele acolhe, envolve e permanece na memória do usuário.

SEDE DA BRAZILGLASS
 
>  Projeto Arquitetônico/ Arquiteto Responsável: Sidonio Porto
Arquitetos Associados/ Marcio Porto
> Fabricante da Estrutura
em Aço: EMTEC
> Execução da Obra:
Nível 2 Engenharia
> Empresa Responsável pelo
Projeto da Estrutura em Aço:
Projeto Alpha Engenharia de Estruturas Ltda.
> Área Construída: 26.800 m²
> Volume de Aço Empregado:
778,5 toneladas
> Conclusão da Obra: 2022

> Local: Guararema, SP

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